Os desafios enfrentados pelo setor da construção no Brasil são semelhantes aos vivenciados em vários outros países, inclusive nas economias mais desenvolvidas, evidenciando a importância da troca de experiências com outros mercados para uma compreensão mais ampla sobre o futuro. A escassez de mão de obra qualificada, o aumento contínuo dos preços de materiais e os efeitos da industrialização crescente na construção são alguns dos problemas que foram compartilhados por empresários reunidos no Rio de Janeiro em agosto, durante a reunião do conselho da International Housing Association (IHA), principal entidade global do mercado imobiliário e de habitação.
“Tivemos uma programação intensa que reforçou que, atualmente, a pauta estratégica da construção é bastante semelhante em várias regiões”, afirma José Carlos Martins, presidente do Conselho Consultivo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). A entidade, que é afiliada à IHA, organizou o primeiro encontro da associação no Brasil, com o apoio da ADEMI-RJ, Sinduscon-RJ e Firjan. “Muitos dos desafios que enfrentamos aqui também estão presentes em mercados que servem como referência para nós.”
Durante os dois dias de discussões, os participantes abordaram temas como a descarbonização do setor e os impactos da indústria 4.0 – áreas que estão em desenvolvimento tanto no Brasil quanto em outras nações, embora em diferentes estágios. No caso da descarbonização, foi discutido o aumento dos custos regulatórios e como essa transição afeta o valor das propriedades, em contraste com a capacidade financeira dos compradores, o que pode retardar o processo em várias partes do mundo.
Um dos principais obstáculos enfrentados por diversos países que buscam acelerar a industrialização do setor é a dificuldade de aplicar em larga escala as tecnologias avançadas. Vários participantes compartilharam suas experiências, com destaque para o representante do Japão, que apresentou os resultados da aplicação de novas tecnologias nos canteiros de obras de seu país.
A falta de mão de obra qualificada também foi amplamente discutida pelos dirigentes da IHA. Assim como no Brasil, empresários de outros países relataram o envelhecimento da força de trabalho e a dificuldade em renovar os quadros da construção. Esse cenário geracional tem levado empresas a desenvolverem estratégias para atrair jovens e agregar novos valores à atividade.
Os membros da IHA têm acompanhado de perto as recentes iniciativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no sentido de oferecer treinamento para a mão de obra do setor da construção. Um dos tópicos em debate é a criação de empregos verdes, uma tendência que também deve chegar ao Brasil como parte dos avanços no campo da sustentabilidade.
A infraestrutura e a habitação, segmentos de grande importância para a construção no Brasil, também foram temas discutidos pelos visitantes da associação internacional. Os participantes da IHA chegaram a um consenso sobre como a falta de infraestrutura tem levado muitas cidades ao redor do mundo a um ciclo de baixo crescimento urbano e arrecadação insuficiente, o que, por sua vez, dificulta novos investimentos.
A questão do acesso à moradia digna também emergiu como um desafio em várias regiões do mundo. Empresários brasileiros discutiram com os dirigentes da IHA o descompasso entre o valor final das habitações e a renda disponível da população, um problema que afeta o desempenho do setor.
O encontro no Rio de Janeiro destacou os principais desafios da indústria da construção global, proporcionando um espaço para a troca de soluções e estratégias. A programação foi encerrada com visitas técnicas às obras na região do Porto Maravilha, um exemplo brasileiro dos avanços que se busca alcançar em diferentes partes do mundo.
O tema abordado está diretamente relacionado ao projeto "Estratégias para Inovação e Desenvolvimento na Indústria da Construção e no Mercado Imobiliário, seus trabalhadores e a sociedade civil no Brasil" da CBIC, em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi Nacional) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional).
Fonte: Agência CBIC