Presidente de entidade que representa empreiteiras afirma que grupos locais avaliaram e não viram viabilidade de retorno para o investimento.
Agora com envolvimento também da Assembleia Legislativa, segue a “polêmica da cancela”, ou seja, a reação ao resultado da concessão de rodovias na Serra e no Vale do Caí. À coluna, o presidente da Associação Riograndense de Empreiteiras de Obras Públicas (Areop), Ricardo Portella, deu uma declaração forte:
— O Rio Grande do Sul deveria agradecer aos céus que apareceu um solicitante disposto a assumir esse risco enorme.
O risco, na visão do empresário, decorre principalmente do forte aumento dos materiais decorrente da pandemia e da guerra na Ucrânia, mas também das características do projeto de concessão, que inclui exigência de obras complexas.
— Houve um aumento brutal dos custos, e o contrato prevê reajuste pelo IPCA, que nem de perto acompanha essa alta de preços.
Como exemplo, Portella cita os serviços de terraplenagem, que subiram 4% só em março.
— Para nossa sorte, apareceu um grupo disposto a fazer um investimento elevado, que, na minha visão, está subavaliado, ou seja, provavelmente vai custar mais do que o previsto. O Brasil está licitando assim, não é uma invenção gaúcha.
O presidente da AREOP pondera que o governo do Estado estabeleceu a tarifa baseado em estudo do BNDES, e o fato de o desconto oferecido pelo único grupo que se apresentou à licitação ter sido baixo não justifica as queixas sobre o valor do pedágio.
— Significa que, para aquele licitante, o valor da tarifa está ok. Não cabe a uma entidade reclamar que o pedágio vai ficar muito alto. Temos muitos exemplos de tarifa baixa sem resultados, como a ligação entre Curitiba e Florianópolis, especialmente o contorno de Florianópolis. Era para ficar pronto em 2011, estamos em 2022 e só agora parece que vai ser concluído. Nesse contrato, porém, há marcos fixos bem fortes para que seja cumprido.
O empresário criticou a ameaça de judicialização feita pela Fetransul, afirmando que os gaúchos já são vistos como “os reis de cumprir contratos”. Avalia, também, que a intervenção da Assembleia tem mais aspecto “político-eleitoral” do que técnico. Também ponderou que, com o aumento da concessões, é natural que “apareçam grupos que não são os tradicionais” uma das críticas da representante das transportadoras.
— Uma das empresas do consórcio, a Greca Asfaltos, foi a única que entregou um trecho licitado ainda no governo Dilma, que reunia vários grandes grupos que atuam no Brasil. Os demais rescindiram os contratos, eles cumpriram. Não é um grupo desconhecido. Há grupos do Rio Grande do Sul que estudaram e não viram viabilidade, porque o risco do projeto é muito alto para o retorno esperado. Estão previstas obras complexas.
Autor: Gaucha ZH. Clicrbs/Colunista Martha Sfredo