ENFRENTANDO DESAFIOS
Propor uma nova forma de atuação em uma entidade que já foi ícone da infraestrutura gaúcha é a missão da mais jovem liderança do setor da construção pesada.
(matéria publicada na edição 1 de Novembro de 2021 da Revista Modal - Infraestrutura e Logística)
O engenheiro Rafael Sacchi, 35 anos, diretor da RGS Engenharia S.A., de Porto Alegre, na primeira vez que recebeu o convite para integrar a diretoria do Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral (Sicepot-RS), não pôde aceitar. Sua empresa, associada há apenas quatro anos à entidade, estava ainda em fase de estruturação e não haveria tempo para se dedicar à instituição como desejava.
Entretanto, quando veio o convite pela segunda vez, depois de uma reflexão de como poderia contribuir para o setor, ele disse sim. Eleito em 16 de agosto, tomou posse em 8 de outubro passado no tradicional almoço, no Hotel Praza São Rafael, que reúne associados e representantes dos poderes públicos. Sacchi é o mais jovem presidente da história de 42 anos do Sicepot-RS e repete o que vem se tornando quase uma rotina, em todo o mundo: a ascensão de lideranças jovens em várias esferas, tanto em âmbito do setor público como entre empresas e organizações. Entre suas características, destaca-se o fato de que eles não querem que seu trabalho seja apenas um trabalho. Eles querem fazer a diferença no mundo e são promotores fervorosos de causas em que acreditam, e isso pode acabar sendo ótimo para as organizações a que
pertencem.
O consenso é de que se você não está acumulando sua equipe com líderes jovens, você não está posicionando sua organização para a relevância ou sucesso no futuro. Em seu discurso de posse, Sacchi destacou que seu objetivo é trazer um novo oxigênio para a instituição, com ideias novas e um jeito diferente de ver as coisas. “A política vem se renovando. Temos pessoas com muita experiência e jovens, e aqui, no Sicepot, não é diferente. É importante misturar um novo gás e a experiência, contribuindo para a tomada de decisão”, acrescentou.
UMA DAS METAS É AMPLIAR NÚMERO DE ASSOCIADOS
Em entrevista a MODAL, Sacchi afirmou que, com a crise fiscal do país no período de 2012-2014, muitas empresas tiveram de optar por uma forma capaz de garantir a sua sobrevivência, e isso contribuiu para seu distanciamento do sindicato, não por falta de representação da entidade, mas por dificuldades financeiras.
Com sua eleição, ele espera reestruturar a entidade, além de deflagrar uma renovação na forma de se posicionar, quer em relação a novas legislações, ao cenário econômico e mesmo aos poderes públicos, por meio de uma atuação proativa de projetos e de planejamento. Nove empresas ainda estão em recuperação judicial e outras tiveram de reduzir suas atividades para poder sobreviver. De mais de 100 associados dos bons tempos, o Sicepot atua hoje com apenas 49, em um setor que conta com potencial dez vezes maior, acredita Sacchi. “Pode escrever aí que vamos estabelecer a meta de chegar a 400 associados, e isso inclui também as pequenos e médias empresas”, assegura. “É um desafio muito difícil, mas a presença do Sicepot na história da infraestrutura dos transportes do estado é um ativo que não pode ser desprezado.”
INTERFERÊNCIAS NOS CONTRATOS
Um dos caminhos para alcançar esse objetivo, segundo o empresário, será desenvolver uma estrutura capaz de buscar informações para os associados que permitirá, conforme Sacchi, dispor de todo um espectro de obras em todas as áreas de atuação do setor. O sindicato também se propõe a resolver as dificuldades contratuais em várias esferas, sobretudo para aquele associado distante da capital que não dispõe de condições para se deslocar em uma eventualidade.
Sobre esse aspecto, ele diz que a função do sindicato é a de contribuir para o desenvolvimento do setor de infraestrutura do estado. “Para isso, precisamos que os contratos tenham adequada execução e que não sofram interrupções devido a interferências, como as que ocorrem por meio do Tribunal de Contas do Estado”, completa. Quando ocorre a interrupção em um contrato, todo o seu custo é repassado à empresa contratada que não recebe nenhuma indenização. Depois, se inicia uma nova batalha pelo ressarcimento, o que dificilmente acontece, porque passa pela esfera judicial que julga sem conhecimento de causa, complementa.
“O Judiciário vive em uma bolha, e os processos, não raro, caem para pessoas que não têm bom senso ou noção das consequências de decisões sobre ações que devem ser avaliadas com cuidado, porque estamos falando de empregos, de rendas e, em alguns casos, até mesmo da sobrevivência da empresa contratada.” Outra anomalia enfrentada pelo setor, de acordo com o empresário, é a precificação de contratos do setor público que afeta a sobrevivência do segmento. Hoje, segundo Sacchi, existe uma defasagem entre 30% e 40% nos preços praticados em obras públicas, o que se reflete na descapitalização das empresas e no desemprego de categorias que fazem parte da construção pesada.